đŻ #41 - O silĂȘncio e o que ninguĂ©m disse sobre a polĂ©mica da Control | 5 minutos de Marketing | Triber Newsletter
Triber Newsletter #41 - 2 de dezembro de 2024
TL;DR:
Calm pagou por spots publicitĂĄrios para dar⊠silĂȘncio aos norte-americanos;
Abordamos a polémica da Control com uma abordagem que verdadeiramente interessa a profissionais de marketing.;
Na Triber fomos mencionados em algumas revistas pelo nosso trabalho desenvolvido com a Staples, com a Praxis e com Adamus⊠e celebrĂĄmos 4 anos de vida. đ
Quando o SilĂȘncio Fala Mais Alto
Durante a cobertura das eleiçÔes presidenciais nos EUA, marcadas pela vitĂłria de Donald Trump sobre Kamala Harris, um anĂșncio inesperado destacou-se no meio do turbilhĂŁo de notĂcias.
A app de meditação Calm surpreendeu ao comprar espaços publicitårios de 30 segundos na CNN, ABC e Comedy Central para fazer isto:
Sim, ouviu bem. Durante esses 30 segundos, a Calm deixou que o silĂȘncio falasse mais alto. Este contraste com o ritmo frenĂ©tico das notĂcias capturou de imediato a atenção dos espectadores e tornou-se viral nas redes sociais.
O impacto foi extraordinĂĄrio! A Calm transformou-se numa tendĂȘncia na noite eleitoral, com pessoas a classificarem o anĂșncio como âa melhor publicidade polĂticaâ de sempre. Em resposta, a marca voltou ao X com uma nova mensagem, tĂŁo serena quanto o prĂłprio anĂșncio:
đŻ Use o contraste como vantagem. Num ambiente caĂłtico e saturado como o da noite eleitoral, o silĂȘncio da Calm destacou-se porque quebrou expectativas e ofereceu um momento de pausa. Aproveite para pensar em que momentos ou em que meios a sua marca poderia aproveitar-se do contraste.
đŻ Pense na necessidade que a sua marca satisfaz. A Calm atende principalmente Ă necessidade de redução do stress e aproveitou um dos momentos mais stressantes do ano para fazer esta ação. SerĂĄ que hĂĄ algum momento do ano, do mĂȘs, da semana ou atĂ© do dia em que a sua marca possa ser uma grande ajuda a dar resposta a uma necessidade?
O que ninguém diz sobre a castanha castanha da Control
Quem conhece a Triber sabe que gostamos de campanhas bem-humoradas. Talvez por isso jå nos tenham pedido vårias vezes para abordar a mais recente polémica da Control, que começou assim:
O que para uns foi engraçado, para outros foi inadmissĂvel. Uma das marcas mais elogiadas pelo humor e criatividade tornou-se alvo de polĂ©mica. Quem diria que um jogo de palavras geraria tamanha controvĂ©rsia?
Acusada de body shaming por uns (se a minhoca aludia a um pénis pequeno) e de transfobia por outros (se se referia ao pénis de um transexual), fica ao critério de cada um a intenção por trås do post. Mas essa é a nuance do humor: a intenção não importa, mas sim a interpretação.
Sempre que uma campanha do gĂ©nero corre mal, surge a reflexĂŁo: "Valeria a pena a tentativa?". O humor tem uma relevĂąncia inegĂĄvel. Identificamo-nos mais com quem partilha o nosso sentido de humor, seja uma pessoa ou marca. O humor reflete inteligĂȘncia e sensibilidade, ligando-nos a quem nos faz rir e sentir bem, seja pessoa ou marca. Ă uma ferramenta tĂŁo usada na publicidade precisamenre porque tem esta capacidade de criar uma ligação afetiva forte entre marca e cliente.
Mas como qualquer ferramenta, tem os seus riscos⊠neste caso, o risco de ofender. Quando isso ocorre, a marca enfrenta uma escolha: manter-se firme ou pedir desculpa. Para surpresa de muitos, após receber feedback negativo, a Control apagou o post e publicou um pedido de desculpas:
Alguns apreciaram o gesto, mas os comentĂĄrios mais populares contam outra histĂłria:
De um lado, acusaçÔes de transfobia; do outro, de ceder Ă censura. O caso gerou tanto mediatismo que atĂ© Ricardo AraĂșjo Pereira teve algo a dizer:
Uns falam de transfobia, outros de censura, outros de wokismo e outros de body shaming. Mas para nós interessa-nos outro tipo de abordagem - uma que se foque no marketing e na construção de marca.
A anålise deste caso deve estar assente em duas observaçÔes:
A primeira é que toda a gente då como garantida a relevùncia da Control no panorama nacional. Apenas uma publicação de castanhas e minhocas foi suficiente para gerar um debate nacional sobre liberdade de expressão e transfobia. Muitas marcas poderiam fazer uma må uma piada, mas quantas gerariam este buzz?
A segunda estå atrås de uma questão: serå que a missão da Control é carregar a bandeira da liberdade de expressão? à fascinante ver que esta era a expetativa de muitos fãs⊠parece que todos se esqueceram de que a Control não vende piadas, mas sim preservativos.
Numa sociedade livre, a liberdade de expressĂŁo Ă© um direito inalienĂĄvel, mas deve a Control ser o seu sĂmbolo? Para muitos, parece que sim. Contudo, o limite do humor para uma marca sĂŁo os limites da sua prĂłpria comunidade. Afinal de contas, o humor Ă© uma ferramenta para criar ligaçÔes emocionais e para vender.
A Control decidiu que ouvir a comunidade que ficou ofendida era mais importante para a marca do que lutar pelo direito a fazermos as piadas que nos apetece. O que, para uma marca que vende preservativos é uma posição defensåvel.
O problema é que a Control tornou-se em algo muito maior do que uma marca de preservativos⊠Quer fazer o teste?
Quando pensa em Control costuma associar a marca a âaproveitar a vidaâ e Ă âdescoberta do bem-estar sexualâ?
E pensa numa âjornada fascinante e emocionante que permite o conhecimento de nĂłs prĂłprios, os nossos desejos, as nossas emoçÔes e as nossas alegriasâ?
Isto Ă© o que podemos ler no site da marca, aquilo que deduzimos ser a missĂŁo. Mas nĂŁo sĂŁo estes os valores nem a mensagem que popularizaram a Control em Portugal. De certeza que a maior parte das pessoas que pensa na Control pensa em humor, criatividade e irreverĂȘncia, pois Ă© isso que tĂȘm comunicado hĂĄ anos nas suas redes sociais.
Este é o ponto fulcral de que ninguém fala. à que a Control construiu uma imagem que não é necessariamente aquela que lhe convém defender. Uma imagem invejåvel, diga-se, que angariou mais de 700.000 seguidores.
Mas sabe o que uniu estes 700.000 seguidores? Não foi a descoberta do bem-estar sexual nem a jornada pelo auto-conhecimento⊠foram as piadas. Foi a Control-Humorista que uniu estas pessoas. As pessoas seguem a marca porque, como se de um humorista se tratasse, querem ouvir a sua próxima piada.
Mas a Control nĂŁo Ă© um humorista nem tem a responsabilidade de desafiar os limites do humor. Poderia tĂȘ-lo feito, claro que sim. Mas a marca preferiu defender outra causa e outra comunidade que estĂĄ mais em linha com os seus valores. E foi por isso que tantas pessoas se sentiram defraudadas com a decisĂŁo de apagar a publicação.
SĂł o tempo dirĂĄ se fizeram bem ou mal em retirar o post e pedir desculpaâŠ
O melhor que podemos fazer, por enquanto, é aproveitar para retirar liçÔes valiosas para as nossas marcas:
đŻ Encontre o equilĂbrio entre notoriedade e posicionamento. Preferia 5.000 seguidores alinhados com os valores da sua marca ou 500.000 seguidores indiferentes a esses valores? A Control faz parte do mainstream da cultura popular portuguesa, algo inatingĂvel para a maior parte das marcas. E quando isso acontece, hĂĄ muitas pequenas comunidades dentro dessa grande comunidade unida pelo humor⊠SerĂĄ cada vez mais difĂcil agradar a todos. Gerir tudo isso de acordo com o que mais valor acrescenta Ă sua marca e a defender os valores da mesma Ă© um trabalho que implica avaliar riscos e benefĂcios potenciais em cada ação que se toma.
đŻ Tenha cuidado: com o humor nĂŁo se brinca. O humor Ă© uma ferramenta poderosa para construir marcas, e a Control Ă© uma prova disso. Mas nenhuma Ă© tĂŁo arriscada. Antes de fazer uma piada, avalie o timing, possĂveis associaçÔes negativas e teste Ăąngulos diferentes.
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Universo Triber
Fomos mencionados num artigo da Sapo associados Ă Staples e outro pela Marketeer onde fomos associados Ă Ășltima campanha de Adamus. TambĂ©m estivemos em destaque em vĂĄrios meios pelo anĂșncio da Praxis, da TopĂĄzio e da Onyx como novos clientes.
JĂĄ sĂŁo quatro anos a fazer o que mais gostamos: transformar ideias em marcas que o mundo adora. Que venham muitos mais de conquistas, desafios e felicidade! đ